Ainda morre uma pessoa de fome a cada dois dias no Paraná, segundo os dados mais recentes disponibilizados pelo Ministério da Saúde. Mas há o que comemorar. Em 2017, dado mais recente, houve o menor registro de casos desde o início da apuração. Naquele ano, foram 187 mortes confirmadas como decorrentes de desnutrição no Estado – o número mais baixo desde 1979 (confira no infográfico). Em 2018, reportagem da Gazeta do Povo mostrou que as principais vítimas da fome no Paraná são os idosos.
No Brasil, a tendência também é de queda. Em 2017, o país registrou 5.653 óbitos associados oficialmente à fome, menor marca em 38 anos. É menos da metade dos casos contabilizados pelo governo federal em 1979, durante a ditadura militar, quando 11.784 brasileiros tiveram a morte registrada como consequência da alimentação insuficiente. Naquela época, a vilã era a desnutrição infantil – 84% dos casos eram de crianças de 0 a 4 anos idade. Hoje, 82% são idosos.
O que é o Direito Humano à Alimentação?
É um direito humano básico, reconhecido pelo Pacto Internacional de Direitos Humanos, Econômicos, Sociais e Culturais, ratificado por 153 países, inclusive o Brasil. Esse novo direito pressupõe uma alimentação adequada, tanto do ponto de vista de quantidade como de qualidade, garantindo a Segurança Alimentar e Nutricional (SAN) e o direito à vida, entendido aqui como o acesso à riqueza material, cultural, científica e espiritual produzida pela espécie humana.
A forma para identificar as mortes por fome no Brasil consta em resposta do governo federal a pedido feito pela Lei de Acesso à Informação. O extinto Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome orienta que a consulta à base de dados do Sistema Único de Saúde (SUS) deve ser feita procurando a causa “desnutrição” na classificação da CID-10 (Código Internacional de Doenças). Os dados do SUS são disponibilizados após várias revisões – portanto os números referentes a 2017 são os mais atuais.
Pessoas com mais de 80 anos são a maioria das vítimas da fome
Das 187 mortes por fome confirmadas no Paraná, 151 são de idosos – 80% do total. O lado sombrio do envelhecimento da população no país aparece conforme os dados vão sendo detalhados, pois entre os idosos foram 19 óbitos entre pessoas que tinham de 60 a 69 anos de idade, 36 falecimentos registrados entre septuagenários e 106 entre anciãos com 80 anos ou mais.
Entre as vítimas da fome identificadas pelo Ministério da Saúde com 80 anos ou mais, 74 têm baixíssima escolaridade – menos de 4 anos de educação formal. Há certo equilíbrio entre homens e mulheres, com 50 e 56 mortes por desnutrição, respectivamente. E 20 são negros, sendo a maioria destes óbitos no Paraná de pessoas brancas. Dos 106 anciãos mortos por desnutrição em 2017 no estado, 61 eram viúvos. A maior parte veio a óbito já internados em instituições hospitalares, mas 29 casos foram registrados dentro dos domicílios.
Considerando que a última Projeção de População do IBGE coloca o Paraná como segundo estado do país com maior longevidade, os dados sobre o perfil de quem morre por fome são um sinal inequívoco de alerta. De acordo com o levantamento, os nascidos no Paraná viverão, por volta de 2060, em média, até os 83,86 anos – justamente a faixa etária de parte significativa das vítimas fatais da desnutrição.
Fonte: José Lazaro Jr/Livre.jor / RBJ
Foto: Abraji
Fonte: José Lazaro Jr/Livre.jor / RBJ
Postado por: Jefferson Silva
22/06/2019