No início da pandemia, emissoras de rádio do País inteiro viveram um fenômeno parecido: a debandada dos anunciantes. O temor geral das marcas era de que, com todo mundo em casa, ninguém mais fosse ouvir rádio – meio consumido no trânsito, principalmente em grandes cidades. Mas, como nada é previsível nesses tempos, a audiência surpreendeu.
De acordo com a Kantar Ibope Media, 75% das pessoas que ouviam rádio antes da crise da covid-19 afirmaram, no estudo Inside Radio 2020, que estão ouvindo na mesma intensidade. Outros 17% responderam que passaram a ouvir muito mais.
O número de ouvintes começou a subir repentinamente já no fim de março. “Notávamos isso não só pelo índices, mas também pela participação das pessoas pelas redes e pelo WhatsApp”, afirma Emanuel Bomfim, diretor artístico da Rádio Eldorado, que pertence ao Grupo Estado. “Era gente de outros lugares que estava ouvindo pela internet.
“Esse período mais introspectivo fez com que os ouvintes passassem a experimentar novos formatos de rádio: 46% dos entrevistados ouviram serviços de streaming de áudio durante a pandemia e 25% aumentaram o consumo”, diz Adriana Favaro, diretora da Kantar Ibope.
Com o isolamento social, as pessoas procuraram a companhia do rádio para ouvir músicas e notícias, enquanto trabalhavam, estudavam ou faziam faxina. A orientadora parental Suzana Nishie, moradora do bairro da Saúde, em São Paulo, não ouvia rádio há um tempo, mas retomou o hábito. “A casa ganha mais vida com o rádio.”
Na visão de Daniel Ribeiro, diretor de mídia da AlmapBBDO, que fez campanhas radiofônicas para marcas como Bradesco, Volkswagen e Boticário, além da companhia, o rádio tem a característica da simultaneidade que outros meios não têm. “Você pode fazer outras coisas enquanto ouve a programação”, afirma. O que mudou, diz, foi o jeito de ouvir.
Se antes da pandemia o rádio era ouvido pelo “dial”, hoje o meio digital ficou mais popular: 43% afirmaram ouvir rádio pela web (antes eram 20%). Outros 26% responderam que ouvem tanto da forma tradicional quanto digital.
Mas os anunciantes demoraram um pouco para voltar. Para Paulo Sant’Anna, consultor de comunicação e mídia, esse é um reflexo do comportamento das marcas, que às vezes levam mais tempo para detectar tendências. “As pessoas não ouvem só Spotify. Quando o jovem quer descobrir músicas novas, ele vai para o rádio, que ainda é uma grande plataforma de lançamentos.”
Mudança
Até mesmo rádios que nasceram na internet e são 100% digitais passaram pelo mesmo processo. “Tivemos uma fuga de patrocinadores que voltaram agora”, diz Patricia Palumbo, idealizadora da webradio Vozes. “As pessoas estão trabalhando de casa, mas querem ficar conectadas. E o rádio permite isso, sem exigir atenção total.”
Para as marcas, anunciar em rádio, sobretudo em tempos de crise, traz várias vantagens, porque é barato e eficaz. “Tem muita capilaridade”, diz Mirian Cumino, diretora de mídia da F.biz. “Além disso, o anunciante pode falar com o ouvinte por meses, repetindo o anúncio ou mudando conforme o tempo.” E tem também o aspecto da regionalidade. Há cidades onde só o rádio chega.
Fonte: Estadão
Postado por: Jefferson Silva - Laranjeiras do Sul
07/12/2020