Uma crise sem precedentes empurra os produtores de leite para as cordas na luta pela sobrevivência na atividade. Diante de fortes oponentes como o alto custo de produção, importação da Argentina e do Uruguai, queda no preço do produto pago ao produtor e falta de suporte do poder público, os bovinocultores estão quase indo a nocaute. Resta, agora, o apelo às autoridades para que tomem medidas de fomento à cadeia produtiva e a “esquiva” dentro da porteira, na busca pela redução dos gastos, esperando que o mau momento passe antes da temida queda à lona.
Neste duelo, em todas as regiões do Paraná, os produtores que resistem têm a gestão como prioridade. Muitos vivem dilemas como mudar a dieta dos animais em determinadas fases, redução do tempo de ventilação em dias menos quentes para economizar na conta de luz, corte de funcionários, secar animais antes do tempo habitual, descarte de vacas menos produtivas, entre outras medidas necessárias para a sustentabilidade do negócio.
A tempestade perfeita para o mercado de lácteos começou com a queda no consumo. A demanda por leite em 2022 voltou ao patamar de 2011, em termos de produção e consumo per capita. “Abrimos o ano passado com queda de 10% no preço em relação a 2021. Nunca tínhamos visto uma queda tão acentuada”, descreve o pesquisador da Embrapa Gado de Leite Glauco Rodrigues Carvalho. “Para piorar, entramos em 2023 com consumo mais fraco. E, como a economia da China desacelerou, a Argentina e o Uruguai, que tinham o país da Ásia como importante parceiro comercial, direcionou suas vendas para o Brasil”, acrescenta.
Além disso, nem mesmo o inverno, período no qual historicamente as cotações do leite costumam aumentar, fez o preço pago ao produtor subir. Conforme dados do Conseleite-PR, desde abril, o preço de referência para o leite vem acumulando quedas consecutivas.
Outro fator de dificuldade envolve a oscilação no preço dos grãos, o que afeta diretamente o custo de produção de alimentos para as vacas. Em outubro de 2022, conforme o Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria de Agricultura e Abastecimento (Seab), o milho estava cotado a quase R$ 80 a saca. Como o planejamento ocorre com antecedência, a alimentação dos animais está pesando, apesar da cotação atual do cereal estar na casa dos R$ 42.
Esse apontamento encontra força nos dados da Embrapa Gado de Leite, ao revelar que diferentes modelos de tecnologia e eficiência coexistem no Brasil, com produtores obtendo renda de R$ 5 mil por hectare por ano e outros de R$ 300. Desta forma, segundo Carvalho, da Embrapa Gado de Leite, com o passar do tempo, os bovinocultores com menor renda devem, gradativamente, deixar a atividade. “Produtores têm abandonado o leite e o motivo está atrelado à eficiência da produção. Por outro lado, produtores mais tecnificados e profissionais, que possuem escala de produção, são bonificados”, explica o especialista. Atualmente, as propriedades que produzem até 49 litros de leite por dia representam 71% do número de estabelecimentos no Brasil. Por outro lado, estes respondem por apenas 16% do volume da produção.
A situação delicada do produtor de leite também se reflete na indústria, conforme o gerente da divisão de leite da Frimesa, Erivelto Costa. A marca que reúne 1927 produtores processa diariamente 680 mil litros de leite, crescimento de 6% em relação ao ano passado. Porém o faturamento cresceu apenas 2,38%. No final da conta, a operação possui, na média de 2023, uma margem de 0,3%. “Nem todos os produtos estão ruins. Temos um portfólio grande de lácteos e isso permite migrar para o que dá resultado melhor em cada momento”, revela Costa.
As agroindústrias com um portfólio enxuto atravessam situação mais complicada para fechar as contas. Mesmo a Frimesa tem adotado medidas para reduzir custos, com redução máxima de desperdício, programas de inovação e controle. “Hoje, não é só o produtor que está ficando com o ônus, tudo que veio de fora ficou muito caro. Eu acredito que o fundo do poço seria hoje se o leite brasileiro chegasse aos 41 centavos de dólar [em agosto, o Conseleite-PR fechou em cerca de 45 centavos de dólar], que é o preço pago pelo leite de importação da Argentina”, opina.
Fonte: Faep
Postado por: Jefferson Silva - Laranjeiras do Sul
23/10/2023