A cadeia leiteira do Paraná vive um dos períodos mais difíceis das últimas décadas. O preço pago ao produtor caiu por quatro meses consecutivos e, segundo lideranças do setor, não há sinais de recuperação a curto prazo.
Em entrevista ao Giro Rural da Rádio Campo Aberto FM, o produtor Lauro Schuster, da comunidade Faxinal Grande, presidente da Cooperativa de Produtores de Leite (COLElS) e integrante da Câmara Técnica do Sindicato Rural, avaliou o atual cenário e comentou as últimas movimentações políticas sobre o tema.
“A cada dia que passa, em vez de surgir uma luz no fim do túnel, só tempestade. A situação não está boa. Há uma previsão de baixa de 15 a 20 centavos para o próximo pagamento referente ao leite entregue em outubro. E, segundo estudos da Universidade Federal do Paraná, a tendência é o preço continuar em queda até o fim do ano”, afirmou Schuster.
O produtor destacou que o impacto da crise não atinge apenas as famílias que vivem da atividade leiteira, mas toda a economia regional.
“Vai ter muito produtor que vai precisar vender o plantel para pagar as contas. Isso gera desemprego e afeta o comércio local. Em Laranjeiras do Sul, o leite movimentava cerca de 10 milhões de reais por mês há poucos meses. Hoje, são 6 a 7 milhões. Essa diferença reflete diretamente nas vendas e na renda das cidades do interior”, alertou.
Audiência pública não trouxe soluções concretas
No dia 21 de outubro, a Assembleia Legislativa do Paraná realizou uma audiência pública intitulada “Crise no Preço do Leite”, que reuniu mais de 300 produtores, representantes de sindicatos, governo e parlamentares. A expectativa era debater soluções e propor medidas de apoio à cadeia produtiva.
Schuster, que participou do evento acompanhado de lideranças municipais, avaliou que o encontro trouxe poucos avanços práticos:
“O que eu vi de positivo para o produtor de leite foi zero. Muitos discursos políticos, mas pouca defesa real da categoria. O único deputado que defendeu de fato o setor foi o Luis Corti. O que foi aprovado lá já existe, como a proibição da reidratação do leite — só foi reafirmado, sem fiscalização efetiva”, criticou.
O produtor também afirmou que o governo federal demonstra pouco interesse em interferir para melhorar os preços pagos ao campo:
“Se o preço do leite sobe, aumenta o valor da cesta básica, e isso o governo quer evitar. Então, hoje não há vontade política de resolver o problema do produtor de leite.”
A pior crise em mais de duas décadas
Com mais de 26 anos de atuação na COLEUS, Lauro Schuster classifica o momento atual como a pior crise enfrentada pelo setor.
“Jamais existiu uma oscilação de preço tão grande. Historicamente, o leite caía por dois, no máximo três meses, e depois subia. Agora são quatro quedas seguidas. E o mais grave: é uma baixa causada pela falta de consumo, algo inédito. Muitos produtores vão sair da atividade e podem perder parte do patrimônio”, lamentou.
Apesar do cenário desanimador, Schuster reforça a esperança de que o setor encontre novos caminhos:
“Vamos aguardar os próximos capítulos e torcer para que, em algum momento, apareça uma luz para os produtores de leite.”
Fonte: Programa Giro Rural – Rádio Campo Aberto FM
Entrevistado: Lauro Schuster, produtor de leite e presidente da COLELS.
Fonte: RCA - Jefferson Silva
Postado por: Jefferson Silva - Laranjeiras do Sul
31/10/2025