A peste suÃna africana (PSA) é uma doença altamente contagiosa, causada por um vÃrus composto por DNA fita dupla. A doença não acomete o homem, sendo exclusiva de suÃdeos domésticos e asselvajados (javalis e cruzamentos com suÃnos domésticos). A PSA tem sido observada desde o inÃcio do século 20 no sul e leste africanos e inicialmente era caracterizada pelos aspectos clÃnico-patológicos semelhantes à peste suÃna clássica (PSC). No entanto, posteriormente foi observado que as duas enfermidades são distintas.
Em setembro de 2018, o vÃrus da PSA foi detectado em suÃnos de subsistência na China e na Romênia e em javalis na Bélgica. Nestes surtos, a fonte comum de infecção foram restos de alimentos contendo produtos não cozidos, derivados de suÃnos, contaminados com o vÃrus.
A situação é calamitosa:Â
1. Estima-se perda de 134 milhões de cabeças —sobre um total de 684 milhões—, gerando uma queda da ordem de 20% na produção de carne suÃna, que pode chegar a 35% se o pior cenário desenhado pelo Rabobank se concretizar. O problema se agrava com o grande trânsito de animais dentro da China e com o Sudeste Asiático, além do fato de um quinto da produção doméstica vir da pequena produção de “fundo de quintalâ€, com alta exposição ao vÃrus e controle sanitário precário.
2. Para o Brasil, o principal impacto negativo da peste suÃna se dará sobre as exportações de soja, produto que lidera a pauta exportadora brasileira e componente essencial da ração de suÃnos e aves em propriedades tecnificadas. Estima-se uma queda de 5 milhões a 10 milhões de toneladas no nosso volume previsto de exportações para a China em 2019/20 (cerca de 10% da previsão inicial), um cenário que pode se agravar no ano que vem, ainda que terceiros paÃses (Europa, principalmente) terão de comprar mais do Brasil para poder ampliar as suas exportações de carnes para a China.
3. Vencida a crise, no longo prazo teremos ganhos importantes com a inevitável mudança do modelo de produção de carnes da China: maior controle sanitário, escala e profissionalização dos produtores com melhoria da genética, manejo e nutrição dos animais, o que favorecerá um maior consumo de farelo de soja.
4. Há também a possibilidade de a China se abrir mais para a importação de carnes, que hoje respondem por menos de 5% do seu consumo. Mas esse segmento não crescerá de forma automática, como alguns querem crer. Ocorre que, ao contrário de commodities agrÃcolas como soja, algodão e celulose —para as quais o mercado encontra-se totalmente aberto para Brasil—, nas proteÃnas animais o acesso se dá por meio de um processo moroso e pouco transparente de habilitação de plantas industriais, caso a caso. Apenas 62 unidades brasileiras estão hoje autorizadas a exportar para a China, um número extremamente reduzido, sendo que só três estão autorizadas a exportar carne suÃna. No curto prazo, quem realmente ganhará mercado são frango e carne bovina, substitutos do suÃno.
5. Atualmente, a China consome 84 kg de carnes por habitante/ano. A atual exportação de carnes do Brasil para China e Hong Kong equivale ao volume de 1 kg per capita/ano na China (1,4 milhão de toneladas). Ou seja, com só mais 1 kg/hab/ano, já estarÃamos dobrando a exportação.
6. Uma última questão relevante é status sanitário brasileiro. Até aqui o Brasil escapou ileso das duas principais epidemias do mundo atual: gripe aviária e peste suÃna. Além da necessidade de reforçar todos os controles de defesa sanitária do paÃs, o Brasil deveria pleitear a ampla aceitação de dois instrumentos fundamentais para garantir o acesso aos mercados, mesmo que parcial.
O primeiro é a “regionalização sanitáriaâ€, que comporta, por exemplo, o nosso status de área livre de febre aftosa com vacinação. O segundo é a “compartimentalização sanitáriaâ€, que é o reconhecimento de sistemas integrados livres de doenças graças à adoção de práticas mais elevadas de biossegurança e rastreabilidade. O Brasil já possui “compartimentos†em que o controle da gripe aviária é extremamente elevado, que hoje servem de exemplo para o mundo.
Todos os pontos aqui apresentados estão ligados a “lições de casa†que precisam ser feitas neste momento: visão estratégica, melhor coordenação do setor privado, medidas suplementares de defesa sanitária e negociação qualificada com nossos parceiros no exterior.
Por Marcos S. Jank  e Rodrigo C. A. Lima
Fonte: NotÃcias AgrÃcolas / Comprerural
Postado por: Jefferson Silva
13/05/2019